20/12/2012

Meu Bairro

Três garotos se entreolhavam na beira de um barranco, todos com as mãos apoiadas em um extenso cano de ferro azul enferrujado (que servia de proteção) enquanto algumas gotas de chuva caiam devagar em suas cabeças. Em uma conversa muda no tempo frio, sem o barulho comum do local, a visão que os garotos tinham naquele ponto de Imperatriz é, sem dúvida, uma das preferidas de quem mora na cidade, já que o lugar é bastante frequentado todos os dias da semana. Trata-se da Avenida Beira Rio, no Bairro Beira Rio, ponto turístico e de lazer em Imperatriz. 

Como no restante da cidade, as ruas do Bairro Beira Rio quase se confundem com a do bairro próximo, o Centro, separado somente pela Rua 15 de Novembro. Descendo na Rua Gonçalves Dias, onde fica a primeira ladeira pavimentada que dá acesso a Avenida, o caminho de croquete recém-colocado vai revelando os diversificados estabelecimentos do comércio local, comuns, mas diferentes, em uma curiosa batalha no que diz respeito à concorrência. 

Duas fábricas de gelo, construídas estrategicamente (ou não!) uma em frente da outra, disputam a hegemonia desse ramo na cidade. Ao fazer a curva, dois bares de esquina disputam a preferência dos pescadores que povoam aquele lado da Avenida. São homens que cheiravam a peixe, que comiam peixe – com farinha de puba e vinagrete -, que bebiam cerveja em caixotes improvisadamente feitos de mesa e falavam sobre peixe. Tanto no “Bar Canto Verde” quanto no “Bar do Cabeça” os homens sem camisa batem ponto ouvindo músicas em ritmo de arrocha e falando mais alto que o volume dela. 

O Rio Tocantins vai se revelando atrás dos quiosques com teto de palha, carros finos com som no volume máximo e gente bem vestida esbanjando dinheiro, enquanto o lado esquerdo da Avenida é ladeado por uma fileira de seis peixarias. Estas dividem ainda a preferência dos imperatrizenses com mais quarto pequenas casas de shows que se confundem com bar e lanchonete (ou vice versa). Em meio a tanta "perdição", uma pacata igreja evangélica da Assembleia de Deus se infiltra naquele mundão e abre espaço falando de Deus para quem vive ou passa por ali. 

De um lado, comércio. Do outro, a luz do sol reflete brilhante nos olhos de quem senta no banco cinza em baixo da maior árvore da Avenida, local preferido dos casais. Alguns espaços médios de grama verde esburacada e mal cuidada ameniza visualmente a falta de infraestrutura dali. Apesar da beleza natural ainda ser presente, o bom momento econômico vivido na cidade fez com que essa paisagem peculiar se alterasse, abrindo portas para que um bar flutuante disputasse as atenções com a beleza do Tocantins.

4 comentários:

Luís Monteiro disse...

Deu vontade de ir ai só pela descrição. Na verdade, acho que andei imaginariamente nessa rua, só por alguns instantes, ou até o texto acabar.

Gostei do texto. "_"


Então, eu indiquei você pra participar de um Meme, e tem que fazer. É bem simples e você só tem que compartilhar com a gente o seu gosto sobre livros. E só. E repito, tem que fazer.

Confira o Meme aqui: Laço de incentivo á leitura (MEME)

Bjws, até breve. "_"

Anônimo disse...

Um local como todo o Brasil. Com suas belezas e desigualdades afins. Sim, tem como ser cosmopolita e se encontrar, entre todas as coisas.
Abraços.

Karina Erika disse...

Aê finalmente um blogueiro maranhense (e assumido) como eu!

Amei a descrição das ruas, podia começar pensar em escrever um livro.

Andei imaginariamente por aí também rsrsrs

Amei o texto!

http://eueminhacultura.blogspot.com.br/

Priscila Aranha disse...

O flutuante não é coisa de hoje, existe desde a decada de 80! Apenas voltou...