31/05/2014

O coração de um desviado

Até que faz sentido a máxima de que tudo o que acontece em nossas vidas é em decorrência de nossas escolhas. O problema é que às vezes o tempo te põe contra a parede e te obriga a ser rápido, e é justamente essa rapidez, envolta de desejo longamente reprimido e uma vontade que chega a ser violenta, que as opções vividas nem sempre são as melhores. “Melhores” no que diz respeito à saúde espiritual, mas que, por consequência, atinge também a emocional e física.

E aí tudo desmorona.



Primeiro você deixa de acreditar naquilo que fazia todo o sentido para sua vida, ao passo que deseja ardentemente acreditar de novo. A consequência da escolha te para e você se vê preso em uma situação difícil de lidar. É uma tortura mental, um duelo de princípios e verdades que não se sabe mais a qual dar credibilidade. Às vezes é bom, gostoso. Às vezes é ruim, amargo. Remorso e alegria se enfrentam enfim.

Aí é mais fácil optar pela opção mais fácil.

Só que nem tudo o que é fácil é necessariamente bom. Você perde amigos, confiança, credibilidade e reputação. Alguns não acreditam mais nem em si mesmos. Viver de alegrias em alegrias, sem alicerces, de momentos de prazer, alcoolizado, no fundo (mas beeeeeem no fundo), logo após o êxtase, não há paz. Fica ressaca, o corpo relaxado do orgasmo, a adrenalina do roubo e da mentira... E só. Apenas isso. Nada mais além disso. Trinta moedas de prata jogada aos porcos.

Mas o que importa? As moedas são minhas e os porcos dão mais valor do que meus amigos (amigos?) da congregação ou de que diabos lá eles forem. Ao menos eles estão aqui, ao meu lado, me vendo de perto acender mais um cigarro, comigo para o que der e vier. Não preciso dar o dízimo então sobra mais dinheiro. Não passo mais horas dentro de uma igreja, então dá pra aproveitar a vida ainda mais.

E aí a verdade começa a aparecer.

Você sente falta da esperança que tinha quando estava tudo bem. Quando havia verdade naquilo que vivia e falava, quando não havia prazer em nada mundano e quando seus olhos estavam voltados ao amor e compaixão. Hã? Tudo mentira! Cadê os irmãos da igreja aqui quando eu mais preciso? Já faz sete meses e o pastor nunca veio até minha casa? Tanto faz, ele nunca me amou mesmo. Mas não. Pelo menos da minha parte era verdade. E sinto falta. Mas prefiro beber mais uma vodka, uma tequila talvez, acender meu cigarro black, ligar para uma prostituta, esquecer o vazio. E daí que se ele voltar amanhã? Desço mais um drink, mais uma rodada de sexo e tudo se resolve.

Estou preso.
Morri.
Cadê a igreja?

3 comentários:

Anônimo disse...

O que acredito que há, cada dia mais, é uma perda fácil da nossa essência. Porque é isso que nos torna íntegros. Ao mesmo tempo, estamos o tempo todo em transição. Somos mutantes em pensamento, ninguém é estático.
Para a vida, de um modo geral, não há salvação.
Abraços.

A. disse...

parabéns James! Seu texto descreve muito bem o que acontece!

Unknown disse...

Pela primeira vez que aqui venho tive sorte ao deparar-me com um belo texto que reflecte a vida de muita gente que anda por ai escondida. Parabéns mais uma vez. Nelson Camacho de "O Canto do Nelson"