27/03/2013

Não acreditem no Renato Russo


Foto: Imagens Depósito

Desde quando a música “Pais e filhos” de Renato Russo foi lançada, várias gerações têm acreditado que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. É fato que devemos amar uns aos outros. É fato também que o amanhã é uma incógnita – nunca saberemos se esse dia realmente vai chegar. É nesse ponto que se sustenta minha reflexão em dizer que Renato é mentiroso, enganador e tem poluído a mente de várias pessoas com essa inverdade. 

Se hoje eu amo alguém como se não houvesse o dia de amanhã, me sinto preso a um estado da alma (bastante cruel, inclusive) chamado despedida (posso chamar até de morte, no sentido literal da frase), pois amanhã eu não terei a pessoa novamente ou vice-versa. Na verdade, o que quero dizer é que em volta de uma despedida há tristeza, lágrimas, saudades, dor… Tudo o que nossa mente entende ser contrária ao amor, um sentimento doce e complacente. 


Ninguém nunca está a espera do último passeio com a família, da última conversa com os amigos, da última qualquer coisa. Não há como seguir diariamente se preparando para um final. É frustrante. É trazer para si angústia e ansiedade. É se encher de dor e de saudade. Mas, então, como encarar esse fato? A resposta é obvia e certamente poucas pessoas já refletiram sobre o assunto. Que tal eliminar a ideia de que devemos amar as pessoas como se não houvesse amanhã e sim como se fosse a primeira vez? 

Sensações como o primeiro beijo, o primeiro passeio de mãos dadas, o primeiro contato com a profissão, a primeira palavra dita por seu filho, o primeiro pedido de namoro, por exemplo, ficam registrados na memória e provocam um bem estar inexplicável. Durante esses eventos são provadas novas sensações e sentimentos, resultando em um desejo de provar deles novamente. Algo bom e repetitivo gera um prazer maior do se preparar diariamente para o fim. A morte se torna uma prisão. Libertação é viver a vida com a dedicação, os riscos e os medos de fazer tudo como se fosse a primeira vez.

Ouça a música em que baseou a construção desse texto

Esse texto escrevi exclusivamente para o site Do Minuto, então resolvi postá-lo aqui no blog. Então, você vai continuar acreditando nele? 

2 comentários:

Luís Monteiro disse...

Isso é só um ponto de vista, e olha que há muitos ângulos que precisam ser visto antes de criar tais opiniões.

A verdade é que tudo depende de como você ver. Tem gente pessimista, tem otimista, tem gente que tanto faz.

Talvez esse "amanhã" do Renato nem queira dizer amanhã mesmo. Mais sim que tudo acaba um dia e que a gente deve aproveitar. Somente. Também acho que não tem nada haver com despedida e essas coisas de adeus, mais sim com o fato de não deixar pra amanhã o que pode ser feito hoje, agora. E geralmente são coisas simples.

A vida é tão surpreendente, as pessoas vivem achando que sempre haverá um amanhã, uma nova chance, um novo começo. Mais nem sempre. Tem coisas que só vem uma vez, e depois, já era.

Boa tarde. "_"

Jota disse...

Foi exatamente isso que eu quis dizer, rs