12/05/2010

CONTO DE FADAS: AGORA O SAPO VIROU O PRÍNCIPE

Em um conto de fadas comum, o personagem principal da história não é do sexo masculino e, quando ele aparece, é sempre acompanhado por uma bela princesa. Além disso, um animal feroz o desafia e seu trabalho é derrotar o inimigo e ganhar o coração dela. O que ninguém sabe é que existe um personagem fora desses padrões.

Na calada da noite vinha ele, desfilando nas ruas de seu império e sentado em seu trono preto e estofado. Sem nenhum aplauso ou reverência. Um exemplo de vida com personalidade forte, sem papas na língua e ator principal de sua própria história. Como um príncipe, desfruta do seu reinado da melhor maneira que pode. Mesmo com dificuldades, nunca deixou de fazer o que lhe deixa feliz. Ele é Fábio Feitosa Pereira, acessor parlamentar, flamenguista de coração, cadeirante com orgulho.

“Por volta de 15 anos tive que usar cadeira de rodas”, conta, afirmando também que foi bastante difícil se adaptar. Durante esse tempo, já estava acostumado a andar sozinho e não depender de ninguém para fazer algo em seu lugar. Sentado em seu eterno trono, voz embargada, expressão fria no rosto e calor piedoso nos olhos, ele conta: “Até mesmo para namorar encontrei dificuldades. Ninguém quer desfilar com um cadeirante na rua”. Porém as barreiras nunca atrapalharam de seus objetivos se realizarem.

Sua expressão fria dá lugar ao orgulho de relatar as suas vitórias. Uma delas é que, a quase cem anos de criação da câmara municipal da cidade de Imperatriz, nunca houve antes um acessor deficiente. Partidário do PCB, o vereador Alberto Sousa foi a porta de entrada de Fábio para a política. Hoje, como acessor, tenta fazer seu trabalho da melhor maneira possível, sem deixar com que nenhuma promessa deixe de ser cumprida. Mas as suas conquistas não param por aí.

Na última semana santa, onde a maioria procura um retiro espiritual para passar o feriado ou visitar os parentes distantes, Fábio escolhe uma atividade diferente. Aos olhos dos pessimistas que acham que um cadeirante é limitado pela deficiência, ele prova o contrário. Há um ano é pescador.

O sol brilhava e o vento soprava calmo naquele dia. Em cima de um barranco alto, com o auxilio de uma cadeira, Fábio entra no barco com seus amigos às nove horas da manhã. Uma enorme espera para fisgar um peixe e durante seis horas nenhuma resposta vinda das águas. A pescaria chega ao seu fim com um banquete feito com farofa e, claro, peixe frito trazido de casa. Uma inevitável visitante deu a graça de sua presença. Para muitos, seria o fim do dia. Mas para Fábio, era o que restava para tornar o seu memorável.

Em plena três horas da tarde, a chuva começar a cair. Sem nenhuma espécie de proteção, as gotículas de água caiam sutis, formando uma aglomeração delas dentro dos pratos com comida dos pescadores. Um novo sabor para quem sempre foi criticado, humilhado e tratado com pena por várias pessoas.

“É um dia que jamais esquecerei. Meus amigos me tratam como pessoa e não como cadeirante. Não existe essa de preconceito e não querem fazer tudo por mim. Eu nunca pensei em um dia tomar banho no rio e foi uma sensação que qualquer palavra dita jamais descreverá o que eu senti”.

E assim, de rampa em rampa, de pescaria em pescaria, a cada dia cansativo de trabalho, sua majestade é louvada aos sons mudos. Agora, o sapo virou o príncipe. Suas conquistas, sua força e determinação fazem com que o seu reinado seja digno. Digno de ser relatado como exemplo para muitos que se acham incapazes. Mesmo que no final do conto não existam aplausos de reconhecimento.

Gente tou aqui novamente com mais um trabalho da faculdade. É uma crônica da vida real. Esse cara realmente existe! Uma hora e vinte e uma da manhã e eu aqui postando. É o horário que tive para terminar o texto. Se cuidem, respondo os comentários anteriores quando der. Beijos ;*

10 comentários:

Thai Nascimento disse...

Que interessante. A realeza não está fora, mas dentro de uma pessoa. Por isso o sapo, o desprezado, o ignorado, pode se tornar príncipe, porque no fundo e por dentro, sempre o foi.

:]

Jana disse...

O comentário de cima tá errado... Apaga tá? O certo:

Ficou muito boa a crônica. Um exelente trabalho, viu? Sem dúvida, os deficientes não RECEBEM o respeito e confiança que toooodo mundo merece. Eles são capazes sim! Uma deficiÊncia físicaa não impede que eles crescam e sejam bons nos que gostam e querem fazer.
Adorei :)

Érica Ferro disse...

Vou revelar uma coisa, que talvez você não saiba. Eu sou deficiente; não cadeirante, mas deficiente.
Não comento isso no blogger não por medo de exibir quem sou, por vergonha ou qualquer coisa assim, mas é que, infelizmente, as pessoas têm mania de supervalorizar o deficiente ou de menosprezá-lo.
Ao longo da minha vida, dos meus vinte anos, entendi uma coisa: nunca vão nos tratar 100% como pessoas 'normais'. Sempre terá um cuidado maior, uma coisa aqui e outra acolá.
E é por isso que eu desisti de querer que as pessoas não tenham essa curiosidade ao me ver na rua. Entendi que é normal a curiosidade e que eu não posso fugir disso. Então, resolvi viver a minha vida, mesmo com todos esses olhares, essa supervalorização - que eu dispenso MESMO -, ou até mesmo a desvalorização - que eu dispenso TAMBÉM.
Na verdade, os deficientes (falo pelo grupo agora) não querem SUPERvalorização. Nós só queremos ser vistos como pessoas CAPAZES, que lutam pelos seus objetivos e os conquistam. Não queremos ser vistos como EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO. Porque TODO MUNDO pode ser um EXEMPLO DE SUPERAÇÃO.
Mas no nosso caso, as pessoas ACHAM que EXEMPLO DE SUPERAÇÃO É, MESMO DEFICIENTE, REALIZAMOS TAL TAREFA. Esse trecho 'MESMO DEFICIENTE' já é um modo de discriminação, ao meu ver; de descrença em nós. Por isso que eu detesto ouvir frases com essas duas palavras. Eu sou mais do que a minha deficiência, eu não preciso de todos os membros pra pensar e alçar voos.
A sociedade deveria entender isso e passar a nos ver como SERES HUMANOS.
Pronto. Meu comentário ficou gigantesco e levemente revoltado.
É que esse assunto me revolta mesmo, mexe com meus nervos.

Um abraço.

Érica Ferro disse...

Pow, James, eu compreendi perfeitamente a intenção do seu texto. Que é realmente mostrar o potencial das pessoas com deficiência. É que esse assunto me lembra o outro, que foi sobre o qual discorri no meu comentário anterior. Me empolguei tanto, que esqueci de dizer que gostei bastante do texto. Foi isso...! =)

Debbys disse...

simplesmente perfeito!!!
olha, esse ai merece uma nota 100 viu???
adorei, escreveu muito bem e foi super emocionante a historia desse moço!

bjss

Anônimo disse...

adorei! uma mistura de sentimentos e enunciações.
PERFEITO :)

Anônimo disse...

Adorei, conta uma história de vida e é muito bom as pessoas saberem.
Obrigado pela visita no meu blog, e pelas dicas.

Saraiva ® disse...

É dos melhores textos que ja vi .
Tens imenso jeito para escrever *.*
É importante nao falar so de coisas ficticias mas tambem mostrar ao mundo a realidade .

Gostei *

Jana disse...

Pois é, Fechei o anterior e recomecei neste. Sempre que você diz que está a minha cara fico esperando que seja um elogio =P
Beijos, Jota!

Giovanna Lundgren disse...

Oi :D
Brigada por passar la no meu blog e pela dica, eu ajeitei, só não sei se a tempo :s
Admito que fiquei com preguiça de ler tudo, mas pareceu bem interessante, tbm acabei de acordar, quando eu estiver mais desperta passo aqui e leio tudo. beijos. tou te seguindo.
ah brigada mais uma vez.