18/10/2016

Fio vermelho do destino

Se os chineses estiverem corretos, a gente ainda vai se reencontrar.




Ao entardecer, sentado no banco central do parque, dedilhando violão. Essa era a única cena que fazia meu coração bater mais forte e por ela esperava ansioso desde o raiar do sol. Às 17h37, religiosamente, ele usava o mesmo moletom surrado de listras pretas e brancas e o jeans rasgado sob efeito do tempo. Tocava clássicos do jazz e sua voz grossa e rouca reunia dezenas de pessoas ao redor. Eu buscava ficar sempre atrás da árvore a esquerda do seu banco, tímido como sou, na intenção de que não soubesse que estava ali.

Quando o violão obedecia aos seus comandos, imediatamente eu fechava os olhos. Lembrava da minha infância brincando na casa da árvore e dos meus pais ordenando que eu descesse. “Só mais cinco minutos”, gritava lá de cima, esperando ser atendido. E nunca era. Meus pais eram rígidos com a hora do jantar. E você me fez lembrar deles, sem mesmo eu saber o motivo. Mas adorava te ouvir e trazer à mente a figura dos meus pais, que morreram em acidente de carro no último verão. Foi doloroso perdê-los de uma vez só, mas sua música me levou a rememorar momentos que a dor tinha me roubado.

Foi por isso que me apaixonei por você.

Seus olhos negros nunca me fitaram, mas eu sabia que eles diziam “continue, você está indo bem”. Seus braços nunca me envolveram, mas eles me davam muita força e me enchiam de esperanças. Sua boca nunca me beijou, mas eu sabia que tinha o gosto mais agradável do que óleo de coco. Você foi minha cura!

Infelizmente minha mudança de cidade já estava marcada. Até pensei em adiar a ideia, mas a situação financeira na qual me encontrava não permitia. Então hoje, infelizmente, foi nossa despedida. Na imaginação te dei um abraço apertado, um beijo na testa e, olhando diretamente para o seu olhar marejado falei “até breve, meu amor”. Sei que o laço vermelho que está amarrado no meu tornozelo acaba direto no seu. E, se os chineses estiverem corretos, a gente ainda vai se reencontrar.
Ikai Ito! 

Ikai Ito - Diz a lenda que, ao nascer, os deuses amarram uma corda de cor vermelha invisível nos tornozelos de pessoas que estão destinadas a serem alma gêmeas. Aconteça o que acontecer, passe o tempo que passar, um dia, os dois irão se encontrar.

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