31/03/2013

Populares de Itz vs Gente comum de Itz: a divisão de classes no Facebook


A internet possibilita a quebra do espaço geográfico, reunindo em uma só rede todos os grupos sociais e suas culturas. Contudo, longe dessa realidade, existem os minoritários, margem decadente do mundo virtual, que insistem em se subdividir em grupos exclusivos, aumentando ainda mais a divisão de classes presente na sociedade desde que o mundo é mundo. Os adolescentes de Imperatriz buscaram a rede social facebook para manifestar essas divisões, presentes no meio social simbólico de suas mentes. 

Um perfil de sucesso criado pelos adolescentes é o "Populares de Itz" (Itz é a abreviação de Imperatriz). A primeira publicação é datada no dia 13 de janeiro de 2013, trazendo a foto de uma moça chamada Maria Eduarda com a legenda "menina com sonhos, mulher com sabedoria". O perfil conta com mais de 3 mil amigos e quase 200 seguidores. O fato curioso é que, procurando a palavra chave "Populares de Itz" no mecanismo de busca da rede social em questão aparecem mais de dez resultados.

Capa do perfil "Populares de Itz", os dominantes na divisão de classes



Em alusão à popularidade buscada pelos adolescentes da cidade, desmembram-se perfis ainda mais delimitados. Trata-se dos "tops" de algumas escolas públicas e privadas. O "Populares do Dom Bosco", "Populares do CMT (Colégio Militar Tiradentes)" e o "Populares do Leôncio" são exemplo disso. 

Capa do perfil "Populares do CMT", delimitação dos populares (1)

Capa do perfil "Populares do Dom Bosco", delimitação dos populares (2)


Contrária a essa busca exacerbada pelo reconhecimento, surge uma página de esquerda, aposta a tudo o que foi construído pelos "populares". Trata-se da "Gente comum de Itz", criada em março deste ano. Na descrição da página é possível entender o motivo que levou os "excluídos" a se manifestarem: "Cansado por não ser aceito nas paginas dos TOPS DE IMPERATRIZ? Entra aqui meu jovem gafanhoto. Aqui você é bem recebido... Ninguém aqui é top ou usa óculos espelhado. Somos apenas pessoas com rotinas comuns do dia a dia". Os adeptos dessa comunidade não são muitos, ultrapassando um pouco mais de 1.200 pessoas. 

Capa do perfil "Gente comum de Itz", os excluídos


De acordo com estudos do professor de psicologia social da Universidade Federal da Paraíba (UFP), Cícero Pereira, a divisão de classes expressa com exatidão a forma de pensar o senso comum desses indivíduos, o que resulta na divisão de classes como manifestação de ações sociais. "As representações sociais são as formas pelas quais o senso comum expressa seu pensamento. Não se trata de respostas que um indivíduo emite em relação a um estímulo do meio social, mas das maneiras como os grupos sociais constroem e organizam os diferentes significados dos estímulos do meio social e as possibilidades de respostas que podem acompanhar esses estímulos". (PEREIRA, 2003, p. 97) 

Completando esse pensamento, o doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), João Carvalho, explica que a exclusividade de grupos sociais na rede se dá pela instabilidade do caráter das pessoas que compõem esses grupos. "Contemporaneamente, assim, se verificaria a instabilidade e a efetividade de um caráter da identidade que, via de regra, não pode mais ser atribuído apenas a um traço da adolescência, período de grandes e profundas transformações em que se tolera esta instabilidade. Em nossas sociedades, cada vez mais, a imensa maioria dos relacionamentos sociais vem se fazendo neste vazio imaginário, com importantes consequências para a manutenção do controle social”. (CARVALHO, 2002, p. 41). 

Podemos concluir, então, segundos os estudiosos, que é natural do ser humano buscar a inserção em um grupo social do qual se identifica, impulsionando os mesmos a criarem algo natural da sociedade no virtual. O "popular" se acha "popular"; o "comum" de fato se acha "comum" e todos preferem estar com seus iguais. 

Há ainda o meio termo, pessoas que preferem viver vem se manifestarem socialmente nas redes, “acho bobagem essa história de divisão de classes”, discursam. Estes, apesar de não tomarem partido, estão presentes inconscientemente no “partido dos sem partido”, formando assim um novo grupo social, os neutros. 

A consequência dessas divisões é a consolidação de uma mentalidade infantil, imatura, baseada na violência fria entre os “populares”, “comuns” e os “sem partido”, onde a classe dominante (a popular) exerce poder imaginário sob as demais. A ilustração mais clara desse ponto é o próprio discurso dos comuns: “Cansado por não ser aceito nas paginas dos TOPS DE IMPERATRIZ?”. É obvia a procura dos humilhados pela exaltação e isso impulsiona ainda mais a divisão. 

Os populares, impulsionados pela admiração dos comuns e (porque não?) dos neutros, aceitam e reafirmam constantemente tal título. O problema é que, nas suas mentes - e somente nas suas mentes - eles são populares. Quero dizer, por fim, que se os comuns e neutros ignorarem sua existência, tornam-se enfim dominantes. Só há um popular porque alguém se acha comum. 

Referências:
PEREIRA, Cícero. Um Estudo do Preconceito na Perspectiva das Representações Sociais: Análise da Influência de um Discurso Justificador da Discriminação no Preconceito Racial. Ensaio, 108 f. Goiânia, Goiás, 2003. 
CARVALHO, João Eduardo Coin. Os grupo-nome: os efeitos da substituição do imaginário pelo virtual na constituição dos grupos sociais. Artigo Científico, 43 f. São Paulo, São Paulo, 2002.

4 comentários:

Tiêgo R. Alencar disse...

Achei TÃO desnecessário isso, James. De uns tempos pra cá eu também tenho reparado que há essa 'divisão' no facebook entre os 'tops' e os 'lows' e sinceramente, não consigo entender o fundamento disso. Pra mim, realmente não importa se o fulano tem mil amigos no facebook ou se beltrano tem cem. O que importa de verdade é me sentir bem com quem está ao meu redor naquela rede social. Eu tenho CERTEZA que é impossível quem são seus mil, dois mil ou três mil amigos na rede. Se só com trezentos eu já me embaralho todo, imagine com mil a mais! Sei que é bom se enturmar com outras pessoas e tudo mas a esse ponto de 'popularizar' a coisa toda pra mim já é demais. Melhor ficar no meu cantinho sendo 'comum' do que sendo adorado por algo que eu sei que não sou (até porque já vivi a experiência de 'ser popular' no colégio e foi BASTANTE desagradável. Na rede deve ser ainda pior).

ARRASOU no texto. Tá de parabéns pelo referencial teórico, hein? hahahaha

Abraço!

Hyana Reis disse...

não concordei com a parte em que você diz os grupo "gente comum de itz" n]ão tem muitos membros. A página mal tem uma semana de criação, em apenas 24 horas conquistou quase metade desse público total. Sem falar no grande número de compartilhamentos e viralização que as postagens desse grupo traz.

Érica Ferro disse...

James, morro de preguiça dessa gente que busca popularidade nas redes sociais e morro mais ainda de preguiça dessa gente que SE ACHA mesmo a última bolacha do pacote. Eu, sinceramente, prefiro ignorar tudo isso, porque eles podem achar que são os tops, que são os sensacionais do pedaço, mas na verdade, na maioria das vezes, são apenas uns babacões frustrados, que veem nisso uma única maneira de se sentirem felizes e realizados. Eu faço parte do grupo "tô nem aí pra essa cambada de babacões, dessa gente que quer holofotes, que quer aplausos o tempo inteiro...".
E o meu partido é o do coração partido (citando uma música de Cazuza, hahaha ♥). ;)
Texto muito bem escrito, hein, jornalista?

Sacudindo Palavras

Tati Tosta disse...

Oie, tudo bem? Obrigada pela dica lá no blog. Postei o segundo capítulo, espero ter conseguido entender sua dica.

Beijos, volto mais tarde pra te ler.